CULTURA ORGANIZACIONAL
Conceito de Cultura Organizacional
Para Schein, a cultura é “um
padrão de assuntos básicos compartilhados que um grupo aprendeu como maneira de
resolver seus problemas de adaptação externa e integração interna, e que
funciona bem a ponto de ser considerado válido e desejável para ser transmitido
aos novos membros como a maneira correta de perceber, pensar e sentir em
relação àqueles problemas”. Para Jaques “a cultura organizacional é a maneira
costumeira ou tradicional de pensar e fazer as coisas, compartilhada em grande
extensão por todos os membros da organização e que os novos membros devem
aprender e aceitar para serem aceitos no serviço da firma”. Em outras palavras,
a cultura organizacional representa as normas informais e não escritas que
orientam o comportamento dos membros de uma organização no dia-a-dia e que
direciona suas ações para o alcance dos objetivos organizacionais. No fundo, é
a cultura que define a missão e provoca o nascimento e o estabelecimento dos
objetivos da organização. A cultura precisa ser alinhada juntamente com outros
aspectos das decisões e ações da organização, como planejamento, organização,
direção e controle para que se possa melhor conhecer a organização.
Cada organização tem a sua
cultura própria. É o que denominamos cultura organizacional. Cada organização
cultiva e mantem a sua própria cultura. É por essa razão que algumas empresas
são conhecidas por algumas peculiaridades próprias. Os administradores da
Procter & Gamble fazem memorandos que não ultrapassam uma página. Todas as
reuniões da Du Pont começam com um comentário obrigatório sobre segurança. O
pessoal da Toyota está vidrado em perfeição. A 3M tem dois valores
fundamentais: um deles é a regra dos 25%, que exige que um quarto de suas
vendas venham de produtos introduzidos nos últimos cinco anos; outro é a regra
dos 15% que leva todo funcionário a despender 15% da sua semana de trabalho
para fazer qualquer coisa que prefira, desde que relacionada com algum produto
da companhia. A IBM leva ao máximo a sua preocupação com o profundo respeito
aos funcionários como pessoas. Assim, cultura organizacional é o conjunto de
hábitos e crenças, estabelecidos através de normas, valores, atitudes e
expectativas, compartilhado por todos os membros da organização. A cultura
espelha a mentalidade que predomina em uma organização.
Muitos aspectos da cultura
organizacional são percebidos mais facilmente, enquanto outros são menos
visíveis e de difícil percepção. É como se estivéssemos observando um iceberg.
A sua parte superior é perfeitamente visível, pois se encontra na superfície
acima das águas. Contudo, a sua parte inferior fica oculta sob as águas e
totalmente fora da visão das pessoas. Da mesma maneira, a cultura
organizacional mostra aspectos formais e facilmente perceptíveis, como as
políticas e diretrizes, os métodos e procedimentos, os objetivos, a estrutura
organizacional e a tecnologia adotada. Contudo, oculta alguns aspectos
informais como percepções, sentimentos, atitudes, valores, interações informais,
normas grupais etc. Os aspectos ocultos da cultura organizacional são os mais
difíceis não somente de compreender e de interpretar, como também de mudar ou
sofrer transformações. A figura 6.1 mostra o iceberg da cultura organizacional.
Na verdade, a cultura é a maneira
pela qual cada organização aprendeu a lidar com o seu ambiente. É uma complexa
mistura de pressuposições, crenças, comportamentos, histórias, mitos, metáforas
e outras idéias que, juntos, representam a maneira particular de uma organização
funcionar e trabalhar. Por essa razão, se diz que há uma cultura de segurança
na Du Pont, uma cultura de serviços na Dell Computer, uma cultura de inovação
na 3M, uma cultura de qualidade na Toyota, pois as pessoas de cada uma dessas
organizações aprendeu dentro delas uma maneira particular de lidar com uma
variedade de assuntos relacionados com a vida na organização.
Os componentes da cultura organizacional
Uma outra maneira de abordar a
cultura é proporcionada por Schein. Para ele, toda cultura existe em três
diferentes níveis de apresentação: artefatos, valores compartilhados e
pressuposições básicas. Vejamos cada um deles:
- Artefatos. Constituem o primeiro nível da cultura, o mais superficial, visível e perceptível. São as coisas que cada um vê, ouve e sente quando se depara com uma organização cuja cultura não é familiar. Artefatos são todas aquelas coisas que, no conjunto, definem uma cultura e revelam como a cultura dá atenção a elas. Incluem produtos, serviços e os padrões de comportamento dos membros de uma organização. Quando se percorrem os escritórios de uma organização, pode-se notar como as pessoas se vestem, como falam, sobre o que conversam, como se comportam, quais as coisas que são importantes e relevantes para elas. Os artefatos são todas as coisas ou eventos que podem nos indicar visual ou auditivamente como é a cultura da organização. Os símbolos, as histórias, os heróis, os lemas, as cerimônias anuais são também exemplos de artefatos.
- Valores compartilhados. Constituem o segundo nível da cultura. São os valores relevantes que se tornam importantes para as pessoas e que definem as razões pelas quais elas fazem o que fazem. Funcionam como justificativas aceitas por todos os membros. Em muitas culturas organizacionais, os valores são criados originalmente pelos fundadores da organização. Na DuPont, muitos dos procedimentos e produtos são resultados dos valores atribuídos à segurança. É que a organização foi criada por um fabricante de pólvora para armas, e não é surpresa alguma que tenha procurado fazer esse trabalho com total segurança orientando novos membros que ingressavam no negócio. Os valores de segurança são traços fortes da cultura da DuPont desde os tempos e que a pólvora era o centro de seus negócios.
- Pressuposições básicas. Constituem o terceiro nível da cultura organizacional, o mais íntimo, profundo e oculto. São as crenças inconscientes, percepções, sentimentos e pressuposições dominantes em que os membros da organização acreditam. A cultura prescreve “a maneira certa de fazer as coisas” adotada na organização, muitas vezes, através de pressuposições não escritas e nem sequer faladas. Muitas empresas de cosméticos assumem previamente que toda estratégia de marketing deve focalizar a propaganda e promoções sobre seus produtos para aumentar a beleza das mulheres.
Artefatos, valores compartilhados
entre os membros e pressuposições básicas constituem os principais elementos
para se conhecer e compreender a cultura de uma organização
A Organização Formal e a Organização Informal
Embora sujeitas a critérios de
racionalidade, as organizações são entidades sociais em contínuo processo de
desenvolvimento. Todas as organizações apresentam duas faces distintas e
inter-relacionadas intimamente: a organização formal e a organização informal.
Organização formal
Dá-se nome de organização formal
à estrutura de relações profissionais entre pessoas, planejada no sentido de
facilitar o alcance dos objetivos globais da organização. A organização formal
é a organização oficialmente adotada e é geralmente caracterizada pelo
organograma e pelos manuais de organização. Os principais aspectos retratados
pela organização formal são:
·
OS
ÓRGÃOS. Como departamentos, divisões, seções, setores etc.
·
OS
CARGOS. De diretores, gerentes, supervisores, funcionários, operários etc.
·
A
HIERARQUIA DE AUTORIDADE. Com autoridade e responsabilidade previamente
definidas.
·
OS
OBJETIVOS E OS PLANOS. Definidos para alcançá-los adequadamente.
·
A
TECNOLOGIA. Que constitui o modo de realizar o trabalho dentro da
organização
A organização formal espelha a
maneira lógica e racional pela qual a organização se estrutura a fim de
coordenar e integrar os esforços de todos os membros.
Organização informal
As organizações, apesar de sua
natureza lógica e racional, não são entidades totalmente mecânicas. Elas são
dotadas de pessoas que, embora ocupem posições dentro da organização formal e
realizem o trabalho através da tecnologia, desenvolvem o que chamamos de
organização informal. Existem padrões de comportamentos e relacionamentos que
não constam no organograma. Existem amizades e antagonismos, indivíduos que se
identificam com outros, grupos que se afastam de outros e uma grande variedade
de relações no trabalho ou fora dele e que constituem a chamada organização
informal.
A organização informal é a rede
de relacionamentos e interações que se desenvolve espontaneamente entre as
pessoas que ocupam posições na organização formal. Em outras palavras, a
organização informal é composta de sentimentos de afeição ou rejeição entre
pessoas, de atitudes favoráveis e desfavoráveis em relação às práticas
administrativas, de cooperação ou hostilidade entre grupos. Envolve uma
complicada trama de processos espontâneos que pertencem ao campo comportamental
e que surge, desenvolve e predomina sobre as relações que teoricamente são
formais.
As principais características da
organização informal são:
·
GRUPOS
INFORMAIS. Que se desenvolvem de acordo com os interesses comuns e
identificações das pessoas. Podem ser blocos de interesses, círculos de amizades,
“panelas” etc. Os grupos informais incluem sentimentos de inclusão ou rejeição
de certos membros, sentimentos de hostilidade ou de amizade, comportamento
agressivo de ou afiliação entre pessoas e outros aspectos de origem emocional.
·
ATITUDES
E COMPORTAMENTOS. Que manifestam percepções favoráveis ou desfavoráveis às
práticas administrativas. Os grupos informais desenvolvem padrões de relações e
de atitudes e que passam a ser aceitos e assimilados pelos seus componentes,
pois traduzem os interesses e as aspirações do grupo. Nesse sentido, a
organização informal pode desenvolver colaboração espontânea ou oposição à
organização formal.
·
NORMAS DE
TRABALHO. Que os diversos grupos estabelecem como padrão de desempenho
aceitável nas suas atividades e que são impostos a todos os seus membros,
independentemente das normas formais e oficiais da organização. Também nesse
aspecto, a organização informal pode desenvolver colaboração espontânea ou
oposição à organização formal.
·
PADRÕES
DE LIDERANÇA. Que podem conferir autoridade informal a certas pessoas,
independentemente de sua posição na organização formal. Por características
pessoais ou circunstâcias, certos indivíduos podem se transformar em
influenciadores de atitudes ou formadores de opinião. É a chamada liderança
informal, que pode ou ao coincidir com o poder formal.
O desafio para o administrador é
conciliar e compartilhar as características desses dois fenômenos, ou seja,
adequar o perfil da organização formal e informal para obter efeito
sinergístico e eliminar qualquer tipo de dissonância entre ambas.
Diversidade
A diversidade no ambiente de
trabalho é um aspecto típico do contexto globalizado, dinâmico e competitivo de
hoje. Diversidade significa o grau
de diferenças humanas básicas em uma determinada população. É a existência de
uma variedade de pessoas de diferentes características pessoais que constituem
a força de trabalho: raças, credos, religiões, classes sociais, idades, sexos,
capacidade física, costumes e culturas diferentes se mesclam entre as pessoas
que constituem as organizações. Os novos modelos de gestão dentro desse
contexto não podem deixar de considerar essas diferenças individuais das
pessoas no ambiente de trabalho. As práticas administrativas estão valorizando
as características pessoais no trabalho, como personalidades, aspirações,
motivações, aptidões, interesses etc. Apesar de ser um aspecto complexo para
ser conduzido na prática, a diversidade pode produzir alguns benefícios para a
organização, como:
- Maior probabilidade de obter soluções originais, criativas e inovadoras, tanto técnica quanto administrativamente.
- Criação de uma imagem de postura ética ao se declarar e lutar contra preconceitos e discriminações internas e externas.
- Maior probabilidade de obter fidelidade e lealdade dos funcionários.
- Maior probabilidade de os funcionários estarem dispostos a se empenhar pela organização.
- Maior probabilidade de que os funcionários desenvolvam iniciativa, autonomia e auto-responsabilidade.
- Possibilidade de fomentar um clima de trabalho capaz de estimular o crescimento pessoal dos funcionários (de forma que se sintam dignos e contribuintes da sociedade).
- Contribuição decisiva para que a organização atue como um agente de transformação genuinamente social.
A diversidade realça as
diferenças individuais das pessoas e se contrapõe à homogeneidade, que procura
tratar as pessoas como se elas fossem padronizadas e despersonalizadas. O
conceito ampliado de diversidade – no nível das diferenças individuais entre as
pessoas – é o multiculturalismo, no nível das diferenças entre culturas.
Multiculturalismo
A cultura é difícil de mudar,
principalmente em um nível mais profundo, como os valores e pressuposições
básicas. Todavia, a natureza da força de trabalho vem mudando em grandes
proporções, trazendo um fenômeno novo, que é o multiculturalismo: um misto de
pessoas provenientes de diferentes culturas, de várias etnias e diferentes
estilos de vida. Para que a organização consiga adaptar-se a essa realidade
multivariada, ela precisa compreender o multiculturalismo e seu impacto.
O multiculturalismo significa a
existência de muitos e diferentes elementos e fatores culturais trazidos às
organizações por pessoas provenientes de diferentes culturas e que coexistem e
florescem dentro das organizações. Quase sempre o multiculturalismo refere-se a
fatores culturais como etnia, raça, sexo, faixa etária, credo religioso e
hábitos diferentes. O multiculturalismo está se tornando uma premissa básica da
moderna sociedade, seja a brasileira ou a americana e, provavelmente, uma das
principais características do próximo milênio. Daí, a necessidade de fazer as
coisas politicamente corretas para adequar a administração a uma força de
trabalho multivariada e culturalmente diversificada.
Características das culturas bem-sucedidas
Alguns autores se preocupam em
pesquisar os fatores que determinam as culturas organizacionais que conduzem
uma organização ao sucesso. Se esses fatores de sucesso podem ser isolados, as
demais organizações podem adotar programas de mudanças em suas culturas para se
tornarem mais bem-sucedidas. Kotter e Heskett identificaram dois níveis de
cultura, à semelhança do iceberg que vimos há pouco, conforme a Figura 6.44. No
primeiro, o nível visível, estão os padrões e estilos de comportamento dos
funcionários. No segundo, o nível invisível, estão os valores comportilhados e
pressuposições que são desenvolvidos em longos períodos de tempo. Esse segundo
nível é mais difícil de mudar. As mudanças no primeiro nível – os padrões e
estilos de comportamento – ao longo do tempo provocam mudanças nas crenças mais
profundas. Nesse sentido, mudança cultural emerge a partir do primeiro nível e,
gradativamente, afeta o segundo nível.
Os resultados da pesquisa de
Kotter e Heskett indicam que a cultura apresenta um forte e crescente impacto
no desempenho das organizações. O estudo apresenta quatro conclusões
principais:
- A cultura corporativa tem um significativo impacto sobre o desempenho econômico da organização a longo prazo. Algumas culturas são excelentes em se adaptar às mudanças e em preservar o desempenho da organização, enquanto outras não.
- A cultura corporativa pode constituir um importante fator na determinação do sucesso ou fracasso das organizações na próxima década.
- As culturas corporativas que inibem fortemente o desempenho financeiro a longo prazo não são raras. Elas se desenvolvem facilmente em organizações que são constituídas por pessoas inteligentes e razoáveis.
- Embora sujeitas a mudança, as culturas corporativas podem aumentar o desempenho da organização.
As organizações bem-sucedidas
estão adotando culturas não somente flexíveis, mas sobretudo sensitivas para
acomodar as diferenças sociais e culturais de seus membros participantes,
principalmente quando elas atuam em termos globais e competitivos,
espalhando-se por várias partes do mundo. Por outro lado, também as pessoas
tornam-se igualmente flexíveis e sensitivas pelo fato de participarem de várias
organizações simultaneamente para poderem trabalhar, lecionar, assessorar,
consultar, comprar, alugar, comer, vestir, viajar etc. Elas precisam se
integrar às diferentes culturas organizacionais para serem bem-sucedidas.
Culturas conservadoras e culturas adaptativas
Existem culturas organizacionais
adaptativas e outras não-adaptativas. As primeiras se caracterizam pela sua
maleabilidade e flexibilidade, enquanto as segundas, por sua rigidez e
conservantismo.
Algumas organizações se
caracterizam pela adoção e preservação de culturas conservadoras, nas quais
predomina a manutenção de idéias, valores, costumes e tradições que permanecem
arraigados e que não mudam ao longo do tempo. O perigo é que o mundo muda, o
ambiente também, e essas organizações mantêm-se totalmente inalteradas como se
nada houvesse mudado. Outras organizações se caracterizam pela constante
revisão e atualização de culturas adaptativas. O perigo é que essas
organizações mudam constantemente suas idéias, valores, costumes e perdem as
suas características próprias que as definem como instituições sociais. Apesar
da necessidade de mudança, algum grau de estabilidade torna-se o pré-requisito
para o sucesso a longo prazo da organização. De um lado, a necessidade de
mudança e adaptação para garantir a atualização e modernização e, de outro
lado, a necessidade de estabilidade para garantir a identidade da organização.
O Japão, por exemplo, é um país que convive com tradições milenares ao mesmo
tempo em que cultua e incentiva a mudança e a inovação constantes. Na verdade,
a sobrevivência e o crescimento de uma organização existem à medida que tanto a
estabilidade como a adaptabilidade e mudança são elevadas. A Figura 6.6 permite
uma visualização dessa dupla necessidade.
Isso significa que uma
organização pouco estável e altamente mutável tem tanta probabilidade de
desaparecer do mapa quanto uma organização pouco adaptativa, rígida e mutável.
Toda organização precisa ter alguma dose de estabilidade como complemento ou
suplemento à mudança. Mudança após mudança sem estabilidade alguma resulta
quase sempre em enorme confusão e tensões entre os membros da organização.
Desenvolvimento Organizacional (DO)
Os administradores estão sempre
preocupados em planejar e implementar mudanças que melhorem o desempenho da
organização, tornando-a mais competitiva em um quadro mundial de forte mudança
e competição. Contudo, quase todos eles sabem que a introdução de qualquer
mudança significativa no contexto interno de toda organização traz como
conseqüência enormes problemas administrativos e humanos. Para minimizar os
problemas relacionados com a introdução de mudanças nas organizações, existe
uma variedade de tecnologias baseadas na aplicação dos conhecimentos das
ciências comportamentais à administração. Essas tecnologias de mudança são
conhecidas pelo nome de Desenvolvimento Organizacional (DO).
O Desenvolvimento Organizacional (DO) é uma abordagem de mudança
planejada cujo foco principal está em mudar as pessoas e a natureza e qualidade
de suas relações de trabalho. Em suma, o DO enfatiza a mudança cultural como
base para a mudança organizacional. Mudar a mentalidade das pessoas para que
elas possam mudar e revitalizar a organização. French e Bell definem o DO como
“um esforço de longo prazo, apoiado pela alta direção, no sentido de melhorar
os processos de resolução de problemas e de renovação organizacional,
particularmente através de um eficaz e colaborativo diagnóstico e administração
da cultura organizacional – com ênfase especial nas equipes formais de
trabalho, equipes temporárias e cultura intergrupal – com a assistência de um
consultor-facilitador e a utilização da teoria e tecnologia das ciências
aplicadas ao comportamento, incluindo ação e pesquisa”. Essa definição inclui
vários aspectos importantes, como:
- Processos de solução de problemas. Referem-se aos métodos através dos quais a organização tenta resolver as ameaças e oportunidades em seu ambiente.
- Processos de renovação. Referem-se às maneiras pelas quais os administradores adaptam seus processos de solução de problemas ao ambiente. O DO pretende melhorar os processos organizacionais de auto-renovação, tornando os administradores mais capazes de adaptar prontamente seu estilo gerencial aos novos problemas e oportunidades que surgem.
- Administração participativa. Outro objetivo principal do DO é o compartilhamento da administração com os funcionários. A administração participativa significa que os administradores colocam abaixo a estrutura hierárquica e fazem os funcionários assumirem um papel maior no processo de tomada de decisões. Para alcançar essa mudança, os administradores devem conscientemente mudar a cultura organizacional através do compartilhamento de atitudes, crenças e atividades.
- Desenvolvimento de equipes e fortalecimento (empowerment) dos funcionários. Criar equipes e atribuir responsabilidade e autoridade aos funcionários são elementos vitais da administração participativa. Dar força e autoridade às pessoas para que elas se sintam responsáveis pela mudança.
- Pesquisa-ação. Refere-se à maneira pela qual os agentes de mudança de DO aprendem sobre quais as necessidades organizacionais de melhoria e como a organização pode ser ajudada a fazer essas melhorias. Isso significa que a ação de intervenção do DO é decorrência do diagnóstico efetuado pela pesquisa. A ação é específica para cada necessidade diagnosticada. A pesquisa-ação envolve:
·
Diagnóstico preliminar do problema, feito pela
equipe.
·
Obtenção de dados para apoio ao (ou rejeição do)
diagnóstico.
·
Retroação de dados aos participantes da equipe.
·
Exploração dos dados pelos participantes para
busca de soluções.
·
Planejamento da solução-ação apropriada ai
diagnóstico.
·
Execução da solução-ação.
A metodologia pesquisa-ação tem
sido utilizada pelos especialistas em treinamento das Nações Unidas em empresas
do setor público e privado de vários países em desenvolvimento como a
estratégia mais completa de mudança organizacional.
Técnicas de DO
As principais técnicas de DO são:
·
TREINAMENTO
DA SENSITIVIDADE. Constitui a técnica mais antiga e ampla de DO. Consiste
em reunir grupos chamados T-groups (grupos de treinamento) e que são orientados
por um líder treinado para aumentar a sua sensibilidade quanto às suas
habilidades e dificuldades de relacionamento interpessoal. O resultado consiste
em maior criatividade (menos temor dos outros e menos posição de defesa), menor
hostilidade quanto aos outros (devido à melhor compreensão dos outros) e maior
sensitividade às influências sociais e psicológicas sobre o comportamento em
trabalho. Isso favorece a flexibilidade do comportamento das pessoas em relação
aos outros. Geralmente é aplicado de cima para baixo, começando na cúpula da
organização e descendo até os níveis mais baixos.
·
ANÁLISE
TRANSACIONAL (AT). É uma técnica que visa o autodiagnóstico das relações
interpessoais. As relações interpessoais ocorrem através de transações. Uma
transação significa qualquer forma de comunicação, mensagem ou de relação com
os demais. A AT é uma técnica destinada a indivíduos e não a grupos, pois se
concentra nos estilos e conteúdos das comunicações entre as pessoas. Ela ensina
as pessoas a enviar mensagens que sejam claras e ágeis e a dar respostas que
sejam naturais e razoáveis. O objetivo é reduzir os hábitos destrutivos de
comunicação – os chamados “jogos” – nos quais a intenção ou o significado das
comunicações fica obscuro ou distorcido. A AT assemelha-se a uma terapia
psicológica para melhorar o relacionamento interpessoal, permitindo a cada
indivíduo autodiagnosticar sua inter-relação com os outros a fim de modificá-la
e melhorá-la gradativamente.
·
DESENVOLVIMENTO
DE EQUIPES. É uma técnica de alteração comportamental na qual várias
pessoas de vários níveis e áreas da organização se reúnem sob a coordenação de
um consultor ou líder e criticam-se mutuamente, procurando um ponto de encontro
em que a colaboração seja mais frutífera, eliminando-se as barreiras interpessoais
de comunicação pelo esclarecimento e compreensão de suas causas. Ao final, a
equipe auto-avalia o seu comportamento através de determinadas variáveis
descritas na Figura 6.8. A idéia básica é construir equipes através da abertura
de mentalidade e de ação das pessoas. No trabalho em equipe eliminam-se as
diferenças hierárquicas e os interesses específicos de cada departamento ou
especialidade, proporcionando uma predisposição sadia para a interação e,
conseqüentemente, para a criatividade e inovação.
·
CONSULTORIA
DE PROCEDIMENTOS. É uma técnica em que cada equipe é coordenada por um
consultor, cuja atuação varia enormemente. A coordenação permite certas
intervenções para tornar a equipe mais sensível aos seus processos internos de
estabelecer metas e objetivos, de participação, de sentimentos, de liderança,
de tomada de decisões, confiança e criatividade. O consultor trabalha com os
membros da equipe para ajudá-los a compreender a dinâmica de suas relações de
trabalho em situações de grupo e ajudar os membros da equipe a desenvolver o
diagnóstico de barreiras e as habilidades de solução de problemas para
fortalecer o senso de unidade entre seus membros, incrementar as relações
interpessoais, melhorar o cumprimento das tarefas e aumentar a sua eficácia.
·
REUNIÃO
DE CONFRONTAÇÃO. É uma técnica de alteração comportamental com a ajuda de
um consultor interno ou externo (terceira parte). Dois grupos antagônicos em
conflito (desconfiança recíproca, discordância, antagonismo, hostilidade etc.)
podem ser tratados através de uma reunião de confrontação que dura um dia, na
qual cada grupo se auto-avalia, bem como avalia o comportamento do outro, como
se fosse colocado diante de um espelho. Nessa reunião, cada grupo apresenta ao
outro os resultados daquelas avaliações e é interrogado no que se refere a suas
percepções. Segue-se uma discussão, inicialmente acalorada, tendendo a uma
posição de compreensão e de entendimento recíprocos quanto ao comportamento das
partes envolvidas. O consultor facilita a confrontação, com total isenção de
ânimo, ponderando as críticas, moderando os trabalhos, orientando a discussão
para a solução construtiva do conflito e eliminando as barreiras intergrupais.
A reunião de confrontação é uma técnica de enfoque socioterapêutico para melhorar
a saúde da organização, incrementando as comunicações ou equipes, e para
planejar ações corretivas ou profiláticas.
·
RETROAÇÃO
DE DADOS (feedback de dados). É
uma técnica de mudança de comportamento que parte do princípio de que quanto
mais dados cognitivos o indivíduo recebe, tanto maior será a sua possibilidade
de organizar os dados e agir criativamente. A retroação de dados proporciona
aprendizagem de novos dados a respeito de si mesmo, dos outros, dos processos
grupais ou da dinâmica de toda a organização – dados que nem sempre são levados
em consideração. A retroação refere-se às atividades e processos que refletem e
espelham a maneira pela qual uma pessoa é percebida ou valorizada pelas demais
pessoas. Requer intensa comunicação e um fluxo adequado de informações dentro
da organização para atualizar os membros e permitir que eles próprios possam
conscientizar-se das mudanças e explorar as oportunidades que geralmente se
encontram encobertas dentro da organização.
O processo de DO
As técnicas de DO são geralmente
aplicadas em uma seqüência definida conforme a Figura 6.8. O ponto de partida é
melhorar inicialmente a sensibilidade interpessoal das pessoas para
posteriormente melhorar e incentivar os seus relacionamentos interpessoais. A
seguir, inicia-se a formação e o desenvolvimento de equipes com técnicas
intergrupais, às quais se seguem as técnicas intergrupais necessárias para
integrar as diferentes equipes entre si e, mais adiante, as técnicas
intraorganizacionais para definir os objetivos organizacionais a serem
alcançados mediante o trabalho conjunto e coordenado das diferentes equipes
envolvidas. As evidências mostram que as mudanças que enfatizam as pessoas e a
organização como um todo são mais profundas e eficazes. No fundo, o DO representa
um verdadeiro mutirão de esforços conjuntos para mudar a organização através da
mudança de atitudes e comportamentos das pessoas que nela trabalham. Uma
verdadeira mudança de mentalidade como o meio mais eficaz de mudar a
organização inteira.
Contudo, as principais limitações
da maioria dos programas de DO são:
·
A eficácia de um programa de DO é difícil de ser
avaliada.
·
Os programas de DI demandam muito tempo.
·
Os objetivos de DO são geralmente muito vagos.
·
Os custos totais de um programa de DO são difíceis
de avaliar.
·
Os programas de DO são geralmente muito caros.
Essas limitações, contudo, não
significam que se deve eliminar os esforços de DO. Apenas indicam as áreas nas
quais o programa deve ser aperfeiçoado. Para melhorar a qualidade dos esforços
de DO, o administrador deve:
·
Ajustar sistematicamente os programas de DO às
necessidades específicas da organização.
·
Demonstrar como as pessoas podem mudar seus
comportamentos como parte do programa.
·
Modificar os sistemas de recompensas da
organização para premiar os membros que mudam seu comportamento de acordo com o
programa.
Espírito Empreendedor
Um aspecto importante da cultura
organizacional é o espírito empreendedor. As organizações estão à procura de
pessoas capazes de conduzi-las, de resolver os seus problemas, gerar novas
idéias e caminhos, criar novos produtos e serviços, buscar novos meios de
satisfazer ao cliente e, sobretudo, torná-las competitivas diante dos
concorrentes. Em outras palavras, as organizações procuram pessoas com espírito
empreendedor. A principal característica do espírito empreendedor é a
habilidade de assumir os fatores de produção – pessoas, materiais, financeiros,
mercadológicos e administrativos – e utilizá-los para produzir novos produtos
ou serviços cada vez melhores. O empreendedor percebe oportunidades onde as
outras pessoas não vêem ou não percebem. O empreendedor assume
responsabilidades pelos riscos envolvidos. Alguns empreendedores usam a
informação disponível a todos para bolar algo inteiramente novo, graças à sua intuição.
Um dos mais famosos empreendedores, Henry Ford, não inventou nem o automóvel e
nem a divisão do trabalho, mas conseguiu aplicar a divisão do trabalho na
produção de carros através de uma nova maneira, a linha de montagem. Akio
Morita, o presidente da Sony, a gigante japonesa de produtos eletrônicos de
consumo, percebeu que os produtos já existentes na companhia poderiam ser
adaptados para criar um novo e criativo produto, o walkman pessoal. Geralmente,
o empreendedor vê uma necessidade e então junta e coordena pessoas, materiais e
capital necessário para atender àquela necessidade. Cria uma organização como
um meio para oferecer algo novo para os clientes, funcionários ou outros
parceiros.
O empreendedor é diferente do
administrador. Aquele envolve introdução de mudanças na produção, enquanto o
administrador envolve coordenação do processo de produção. O empreendedor é um
fenômeno descontínuo que aparece para iniciar mudanças no processo de produção,
então desaparece até que reaparece novamente para iniciar outra mudança.
Drucker assevera que o empreendedor está relacionado com mudança e sempre
responde a ela e a explora como uma verdadeira oportunidade. Schumpeter
popularizou o termo empreendedor. Para ele, o processo global da economia
depende das pessoas que o fazem acontecer – os empreendedores. O administrador
precisa saber desenvolver seu espírito empreendedor para conduzir sua
organização rumo à competitividade.
Pelo fato de poderem contribuir
mais para a sociedade, os pesquisadores procuram analisar habilidades, atitudes
e características dos empreendedores, bem como as condições em que eles surgem
e se desenvolvem. Existem certos fatores psicológicos e sociológicos que
explicam o espírito empreendedor.
Fatores psicológicos
A mais importante abordagem a
respeito do espírito empreendedor foi desenvolvida por McClelland em 1986, que
verificou que o empreendedor está voltado para a satisfação de necessidades
pessoais de auto-realização. Pessoas com elevado grau da necessidade de
auto-realização são mais inclinadas a assumir riscos, desde que razoáveis e
quando tais riscos estimulam um esforço maior. McClelland verificou que certas
sociedades tendem a produzir uma percentagem maior de pessoas com alto nível de
necessidades de auto-relização do que outras. O sistema educacional está por
trás disso. Outros pesquisadores verificaram a presença de certos motivos e
objetivos como poder, prestígio, auto-estima e serviços para a sociedade como
os elementos impulsionadores do espírito empreendedor.
Por volta de 1980, Begley e Boyd
verificaram toda a literatura disponível e identificaram cinco dimensões do
espírito empreendedor:
- Necessidade de auto-realização. Os empreendedores apresentam alto nível de necessidade de auto-realização, que os leva a tentar atingir o máximo de suas potencialidades individuais. O empreendedor nunca está satisfeito com o que alcançou. Quer sempre realizar mais e mais.
- Lócus de controle. Os empreendedores – e não os eventos ou a sorte – é que controlam as suas próprias vidas. Os empreendedores pulam em suas próprias cordas, com total independência das outras pessoas.
- Tolerância para riscos. Os empreendedores toleram riscos moderados, desde que tragam maiores retornos para os seus esforços. Coragem e enfrentamento são suas características.
- Tolerância para ambigüidade. Muitas decisões precisam ser tomadas a partir de informação incompleta, duvidosa ou obscura. Os empreendedores se defrontam com a ambigüidade com maior facilidade, desde que consigam fazer as coisas certas na primeira vez.
- Comportamento do tipo A. Refere-se ao impulso pessoal de fazer mais em menor tempo e, se necessário, apesar das objeções das outras pessoas. Fundadores de empresas e administradores de pequenos negócios tendem a possuir maiores graus de comportamento do tipo A do que os executivos vinculados a outros tipos de negócios. O empreendedor busca maneiras diferentes de fazer a mesma coisa mesmo enfrentando oposição e críticas.
Fagenson mostra um outro ângulo a
respeito da diferença entre o empreendedor e o administrador. Os empreendedores tendem a valorizar o
auto-respeito, a liberdade, o senso de realização e um estilo de vida
excitante. Os administradores, por outro lado, tendem a valorizar amizades
verdadeiras, riqueza, salvação e prazer. Os empreendedores querem algo
diferente em suas vidas.
O certo é que os empreendedores
necessitam de auto-confiança, impulso, otimismo e coragem para deslanchar e
operar um negócio, sem necessidade da segurança do contracheque no fim de cada
mês. Os empreendedores são capazes de lançar-se a uma nova aventura porque não
podem ignorar seus sonhos, sua visão, e são propensos a assumir riscos para
obter ganhos financeiros. Muitas vezes, eles são tomados de surpresa por
reduções de pessoal – fenômeno crescente hoje em dia – ou frustram-se com as
limitadas oportunidades de crescimento profissional existentes nas
organizações. Diante dessas circunstâncias, os empreendedores assumem a coragem
e confiança de se dedicar a negócios próprios.
Fatores sociológicos
Alguns fatores sociológicos podem
explicar o aparecimento e o desenvolvimento do espírito empreendedor. As
minorias sociais – raciais ou religiosas – muitas vezes enfrentam dificuldades
na adaptação a certas culturas diferentes, com decorrentes frustrações, o que
leva a buscar ambientes capazes de atender às suas necessidades específicas.
Quase sempre, isso conduz ao espírito empreendedor na busca de situações que
ofereçam oportunidades para satisfazer suas necessidades.
O fato é que os empreendedores
inventam organizações, buscam novos padrões de relações com diferentes
características e reagem mais rapidamente às situações apresentadas por seus
oponentes ou concorrentes. O espírito de mudança e a coragem de enfrentar o
perigo os leva a assumir posições totalmente contrárias ao espírito de
manutenção, permanência e de preservação do
statu quo. Contudo, existe um aspecto extremamente importante a ser
lembrado. O papel do empreendedor é, quase sempre, individual, solitário e
competitivo. O empreendedor costuma lutar sozinho e o faz independentemente ou
contrariamente às demais pessoas. Ocorre que, modernamente, as organizações
estão privilegiando fortemente o espírito de equipe e a cooperação interna ao
invés do individualismo e da competição interna. É o espírito de equipe e a
cooperação que proporcionam a sinergia necessária ao sistema. E o papel do
empreendedor é trazer mudança e inovação, assumir responsabilidades e riscos.
Assim, o papel do empreendedor dentro das organizações precisa ser devidamente
ajustado a essas novas demandas de trabalho em equipe e cooperação. Trata-se de
domar a fera. Aliando-se o espírito empreendedor ao espírito de equipe e
integração obtém-se o quadro necessário para conduzir as organizações para a
competitividade.
Ética
A cultura que predomina na
organização influencia poderosamente o comportamento ético de seus membros. A
ética está relacionada com os aspectos morais da atividade e do comportamento
das pessoas. A ética profissional é o comportamento moral na atividade
administrativa e na condução dos negócios da organização. A sociedade moderna
espera que as suas instituições sociais conduzam suas atividades de acordo com
elevados padrões morais. Assim, administradores e funcionários dessas
instituições precisam obedecer a padrões de ética e de conduta socialmente
responsável.
Ética é o código de moral de uma pessoa ou organização que
estabelece os padrões de conduta considerados corretos ou adequados pela
sociedade. O propósito da ética é estabelecer princípios de comportamento
capazes de ajudar as pessoas a fazer escolhas entre cursos alternativos de
ação. O comportamento ético é aquele que é aceito como bom e certo, em oposição
ao mau e errado. Albert Schweitzer, o famoso médico humanitarista, definia
ética como “a nossa preocupação com o bom comportamento. É sentir a obrigação
de considerar não apenas o nosso bem-estar, mas, sobretudo, o dos outros seres
humanos”. Isso lembra o preceito popular: “não faça aos outros aquilo que você
não deseja que lhe façam”.
Na área de negócios, a ética pode ser definida como a
capacidade de refletir os valores do processo organizacional de tomar decisões,
para determinar como esses valores e decisões afetam os vários grupos de
parceiros e estabelecer como os administradores podem usar essas observações na
administração quotidiana da organização. Administradores éticos buscam o
sucesso dentro de práticas administrativas que são consideradas como claras e
justas.
O comportamento ético
John Akers, o antigo presidente
da IBM, dizia que sem administradores éticos, a companhia não conseguirá ser
competitiva no âmbito nacional ou internacional. Para ele, “ética e
competitividade são inseparáveis. Nós competimos como uma sociedade. E nenhuma
sociedade poderá competir durante longo prazo ou ser bem-sucedida com pessoas
que procuram enganar umas às outras; com pessoas tentando iludir as outras; com
tudo precisando receber confirmação porque não se acredita em ninguém; com cada
pequena discussão terminando em litígios intermináveis; e com governos
redigindo leis regulatórias para amarrar as mãos e os pés dos negócios. Nessas
condições, é muito difícil ser honesto. Nosso sistema de competição deve se
basear em valores subjacentes de confiança e em negócios claros”. A corrupção –
como uma propina para obter informação privilegiada, uma vantagem paga para
entrar com condições privilegiadas em uma concorrência ou mesmo vencê-la
desonestamente, ou com um pedágio informal para entrar num mercado – se
apresenta de formas e ocasiões variadas. Quase sempre através dos chamados
custos de transação que envolvem procedimentos de tipo burocrático e cartorial,
como certidões, licenças, requerimentos, publicações e taxas diversas. A
corrupção se acrescenta nesses custos. De tal forma que a corrupção representa
um custo tão alto quanto a ineficiência administrativa. Numa economia
globalizada, com progressiva unificação da concorrência, o combate e a
eliminação da corrupção tornam-se providências sérias e importantes, tanto da
parte dos governantes, legisladores e do Poder Judiciário, como da parte dos
administradores das organizações, em todos os seus níveis organizacionais.
O código de ética é uma declaração formal que atua como um guia para
tomar decisões e agir dentro de uma organização. O código de ética que a
Johnson & Johnson desenvolveu como guia para as práticas administrativas da
companhia é um balizamento distribuído a todos os funcionários e acionistas da
corporação.
Os preceitos de ética profissional
O administrador pode sentir-se
confiante de que sua ação potencial poderá ser considerada ética se ela for
consistente com um ou mais dos seguintes padrões.
- A regra dourada. Aja da mesma maneira que espera que os outros ajam com você. Faça aos outros aquilo que você desejaria que eles fizessem para você.
- O princípio utilitarista. Aja de maneira que resulte no maior número de pessoas beneficiadas pela sua ação.
- O imperativo categórico de Kant. Aja de maneira que o seu comportamento dentro das circunstâncias possa ser tomado como uma lei ou regra ou comportamento universal e válido para todas as circunstâncias.
- A ética profissional. Tome ações que possam ser vistas e avaliadas como próprias e adequadas por um grupo desinteressado de colegas profissionais.
- O teste de TV. O administrador sempre pergunta: “posso sentir-me confortável explicando a uma audiência nacional de TV porque tomei essas ações?”.
- O teste legal. A ação ou decisão proposta é legal? Não se esqueça de que as leis são geralmente consideradas como os padrões mínimos de ética.
- O teste das quatro maneiras. O administrador pode sentir-se confiante que uma decisão é ética se ele consegue responder afirmativamente às seguintes perguntas relacionadas com sua decisão:
·
A decisão é confiável?
·
É justa para todos os envolvidos?
·
Ela constrói boa vontade e melhores amizades?
·
Ela é benéfica para todos os envolvidos?
O treinamento é uma providência
importante na conscientização e mudança de atitude das pessoas quanto ao
comportamento ético. As organizações utilizam duas práticas principais para
incentivar o comportamento ético de seus membros: elevadas recompensas pelo bom
desempenho ético e punições severas contra o mau desempenho ético. Recompensas
pelo desempenho excelente, a fim de reforçá-lo positivamente, e punições pelo
desempenho inadequado, a fim de corrigi-lo e eliminá-lo definitivamente da
organização.
Valores e Leis
Existe um componente legal em
todo comportamento ético. Na verdade, todo comportamento ético é também
considerado legal em uma sociedade justa e eqüitativa. Isso não significa que
uma ação não ilegal seja necessariamente ética. A letra da lei não é suficiente
para garantir que todas as ações sejam éticas. Por exemplo, é ético para um
funcionário levar mais tempo do que o necessário para cumprir uma tarefa? Ou
fazer uso pessoal do telefone da companhia no horário de trabalho? Ou deixar de
comunicar ao chefe uma violação às regras por parte de um colega? É ético um
aluno colar a prova do colega? Nenhum desses atos é estritamente ilegal, mas
muitas das pessoas os consideram não-éticos porque vão contra sua consciência
pessoal. Para outras, são ilegais, embora ultrapassando a confiança depositada.
Para outras ainda, o teste ético vai além da legalidade do ato em si. É que as
pessoas defendem os seus próprios valores pessoais.
Valores são as crenças e atitudes básicas que ajudam a determinar o
comportamento individual. Os valores variam entre as pessoas e podem assumir
diferentes interpretações sobre se um comportamento é ou não ético em
determinadas situações. E muitas vezes, as pessoas tentam racionalizar o
comportamento não-ético, tentando convencer a si próprias ou às demais pessoas
de que o seu comportamento não é ilegal, ou que atende aos melhores interesses
da companhia ou ainda que ninguém sairá prejudicado. Isso acontece geralmente
em situações ambíguas ou quando o comportamento está na fronteira daquilo que é
certo ou errado.
Muitas organizações procuram
manter elevados padrões éticos nas suas atividades quotidianas, através da
introdução d códigos formais de ética, cursos internos sobre ética profissional,
desenvolvimento de uma cultura ética e apoio total da alta direção. O código de
ética é um documento escrito que estabelece os valores e padrões éticos para
servirem como guias para o comportamento dos funcionários.
Muitos códigos de conduta ética identificam
os comportamentos esperados em termos de cidadania, boas relações com os
clientes, atendimento estrito à legislação vigente, prevenção de atos ilegais e
clareza absoluta nos negócios.
Referências Bibliográficas:
MORGAN, G.; Imagens da Organização. São Paulo: Atlas, 2009.
BARON. R.A.; SHANE, S. A.; Empreendedorismo: Uma visão do Processo.
São Paulo: Thomson Learning, 2007.
CHIAVENATO, I.; Administração nos Novos Tempo. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2006
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